Agora o Centrão quer Ministério da Saúde para quê, exatamente?

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Recife (PE), 07.06.2023 - Ministra de Estado de Saúde, Nísia Trindade, Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, Representantes dos povos Atikum, Marcos Xukuru, Governadora do Estado de Pernambuco, Raquel Lyra, durante Cerimônia de lançamento do novo Programa “Farmácia Popular do Brasil”. Centro Comunitário da Paz Escritor Ariano Suassuna - Recife - PE. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Helena Chagas/Brasil247

O Centrão de Arthur Lira está de olho no Ministério da Saúde desde que Lula, na formação de sua equipe, acenou com postos na Esplanada a partidos de centro e direita para compor uma base parlamentar estável. Não deu. Menos de seis meses depois, as dificuldades do Planalto nas votações da Câmara devem forçar ajustes na composição ministerial e — surpresa! — o Centrão está pedindo de novo a pasta. Tudo indica que não vai levar. Mas seria oportuno ir além do noticiário rotineiro de cada dia, no qual nós, jornalistas, acabamos por normalizar esse tipo de reivindicação: Ministério da Saúde para quê? 

Por que o Centrão quer derrubar a ministra Nísia Trindade, uma técnica de reputação irretocável, e o que vai fazer com o Ministério? Lamentavelmente, a intenção não é exatamente desenvolver projetos eficientes para levar saúde a todos os brasileiros. O conjunto da obra de gestões políticas do setor mostra sucessivos escândalos envolvendo o mega-orçamento da Saúde. Das máfias das Sanguessugas e das Próteses aos achados da CPI da Covid, o pessoal costuma seguir o mesmo script: licitações fraudadas para compra de remédios e equipamentos, superfaturamento na aquisição de vacinas e a convivência com uma legião de lobistas de porta de cadeia frequentando a pasta para negociações pouco claras. O fio de boa parte das investigações — quando as há — quase sempre leva a políticos do Centrão, inclusive do PP, partido de Lira.

Lula tem ainda boas razões políticas para não ceder e nomear um indicado desse grupo para a Saúde, mesmo um nome aparentemente “técnico” que sirva de barriga de aluguel: estaria passando a ideia de estar ajoelhando para beijar a cruz de Lira. Antes de tudo, terá cometido um sério erro de gestão, cuja conta será paga pelos brasileiros mais pobres, que dependem do SUS e são os principais prejudicados pelos desvios da corrupção no setor. 

A essa altura, possivelmente o próprio Arthur Lira saiba que não vai levar a Saúde. Como bom vendedor, está barganhando, cobrando um preço bem mais alto do que a mercadoria vale para, ao final da negociação, levar alguma vantagem. É do jogo. E o governo tem um mundo de possibilidades a oferecer ao Centrão, sem mexer com a saúde das pessoas. Tirar esse Ministério da loja de brinquedos não quer dizer que Lula não vai fazer ajustes na Esplanada para garantir apoio no Congresso. 

A equação que levou o União ao Ministério, por exemplo, está errada desde o primeiro dia, conforme sempre disseram líderes experientes da Câmara. Na ocasião, o presidente eleito tinha pressa em fechar sua equipe e acabou ouvindo conselhos do senador Davi Alcolumbre (AP) para preencher as duas vagas de deputados do partido — Daniela do Waguinho (RJ), no Turismo, e Juscelino Filho (MA), nas Comunicações.  Alcolumbre havia fechado o apoio do União no Senado com Waldez Gois (PDT-AP) para a Integração. Acabou sendo interlocutor nas outras nomeações porque o clima azedara entre Lula e a bancada da Câmara quando o PT da Bahia vetou Elmar Nascimento — hoje líder e melhor amigo de Lira — para o Ministério. 

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